Ativas pulso

Doce pulso ativas percepções
entrega-se o fel feito cor te amarga
cego grifo parte
em fúria
em flor idos do teu pensamento
tocam ma
cenoura vertebrada
o hino minino de mim.

Rugiu o sol
esqueci de tu doce.
Tá tudo aqui
dentro do mim cá fora,
não mais
abrigo
Moro em caos estado
morto singelo gosto
estouro desperto concreto
Tiro o morro do mar
Martelo como tritura e bate
Soco o peito bife
Nervo contradiz o sangue.

Estado mordi
mórbido de vida
Tudo quieto bagunçado
perigo estilhaçado
Chega mais perto do abismo.
Tropical dia aos flor delírio
mergulho coa poeira rã ceia

Ar ranca car ranca
dê coro coração

Cigarreto entreterior cru
vê lado recalcado
vê iludo barcolho

Dorminha sua tanto
fé cal chutado ferventre
sob tom sol tar escaldente

Bandeixa te ímã mão
si netô constelachão

Mar tá
ão pés ao ar
pia pico
pia de solo apico
à catar-se.

Bate pisada

Pre
si
pito.
Rôlo eu
e pedras miúdas.
Ex
barro galhos duros.
Ar
masso folhas estreitas.

O chão meu rosto beija.
O dente da boca me sai.

Leve
antar, os olhos

penas.
Caí
nem vi
mas dói
í.

Confidência: Coração Drummond

Tenho apenas duas mãos
e a feiura do mundo
que me pulsa as veias.
Escorrem desgostos
e o corpo transige no confluência do caos.

Na avenida larga
seis faixas de carro
da beira,
parece que parei pra esperar
um velho grande rio passar

Pra que tanta roda, meu deus? perguntam meus pulmões
porém minha pressa
não pergunta nada.

No meio do caminho tem a pedra
Tem a pedra no meio do caminho
No meio do caminho tem o desvio.

Eu não devia te dizer
mas esse sangue
mas esse escarro
botam a gente comovido como o diabo

Poria a

Desconstrua-eu
torta mente nada aqui está
por virão absolutamanto outra
moras impossibicidade viva ou não
diante, tudo cala sem saber dá a morto -
Espantado neblina pulsação
contraem desobras esvai-se inconsistência
residuas enigma marcas do impossível.
Expele-tu de mim um quase sentido -
palpiteis o indecifrável gravita
impalpável sendo.
Assombração nada na luz.
Muro ao futuro anterior implode em
sopro escape melancolioso ritmo,
Vem morrer se puder.
Engasga a fissura e em pedaços
parafusa com arame o desajuste cimentar.
Banida do tempo a gente é não
múltiplo(s) rompe cicatrizes alavancam
Atalho vamos pelo labirinto embaraçado
contamina e desloca num movimenpaixão.
Preces o encontro mais carcaça
desvisão do que devir
aleatoriado cheiro perto fundo
nenhum retorno se sucede.
Ouriçado em si errante.
Demoras no esfolamento atos de fé
tu extrai o sangue que é tu
está longe
o desvelamento porta o ser.
Penúria a tecitura do ventre próprio
escuro cortado a mingua
Costura! sussurra a fratura
disparam a soleira furta ressonância
carnação topa o campo limite
desde depois oco pleno
Destrata o traço! Larga a pluma.
Fogo e cinza
Abandonei     

Abutre

O que traumatiza é ver.
Dói, corrói
o efêmero memorizar.
Explícita.
Crânio estourado à bala,
pomba esmagada
esmiuçada carne.
Não mais anda esfaqueado pulmão
decepado apodrece.
Sangra até morreu.

Parada

Olhava tudo como se não estivesse ali. O mundo inteiro parecia televisionado; não interagia com a programação dos fatos. Até que o ônibus freou bruscamente e levantou poeira, entupiu meu nariz. O homem desceu. Era vendedor ambulante de amendoins torradinhos e quentinhos. Parou do meu lado, nem me olhou. Como desejei aqueles amendoins. Apostava na força do pensamento, ele me daria um conezinho de papel cheio de grãos salgadinhos. Mas não me deu nada; arrumou os cones que estavam quase caindo e seguiu em frente. Parou para atravessar a rua e correu quando deu. Já do outro lado, bateu o pé direito no meio fio, tropeçou, caiu e derrubou todos os cones no chão. Sujou-se, mas não se machucou. Não me lembro de ter desejado mal algum àquele homem, mas meu olho grande em seus amendoins parece tê-lo empurrado. Assim como quem acha bem feito: "Vai!". Ele levantou-se só, sacudiu a poeira, juntou seus produtos e sumiu.

Desgarrado

Achar que todo acontecimento
carrega significado,
hoje,
me parece tarefa rotineira.
Difícil mesmo é não-pensar.
Difícil é sentir.
Difícil é ver, cheirar.
Supor, eu faço.
Viver é sentir.
Se não sinto não vivo
só penso só existo.

Passa corpo

O peito aberto,
todo empatia ao mundo.
Vapor d'água
toca a todos, em tudo contém
a si o íntimo todo de coração.

Beira o abismado sem fundo poço.
Sapateia ao último respiro.
Termina a dor, perpetua o amor.
Alma expande pega fogo
intima o infinito.

Quando a vida enfim parte,
não guardar o corpo em
caixote de madeira fina
ornada em conforto.
Antes,
despir o orgânico de sintéticos,
soterrar a passividade mortal
para que encontre a atividade microviva;
devolva tudo o que supriu da terra,
ou,
faça de sangue-osso-carne pó.

A pessoa cosmos
poeira na frequência
onisciente universo.

Deixa, já vi

Esbarram-me perfumes conhecidos,
exalo estranhamente seus cheiros,
vêm em mim encantos passageiros,
familiarmente eternecidos.

Meu corpo se aconchega
em confortáveis pensamentos,
respira tons sonolentos,
todo veludo, em si, chamega.

Mas o sentido feito sonho me deixa.
Ao meus pés está de volta o chão,
o ar volta a ser de espinhos.

Mesmo assim, não há por que queixa,
o mundo vai-vem, não me larga a mão.
Passa a vida a base de suspirinhos.

160.2

Há certo instante no ônibus que o sol instala-se perfeitamente sobre o teto do automóvel que me cerca e, nem o lado do motorista nem o do cobrador torram-se em raios UV. Mas, depois de imperceptíveis trancos terrestres unidos à pontualidade de seu Alaor, o céu parece mudar de lugar e o sol sapeca meu coro de novo. São só 55 min. e estou lá, na parada destino, apertando os olhos para atrevessar a rua. Seu Alaor só coversa com a cabeça, ele não tem que dizer nada, apenas dirigir. Eu também só falo com a cabeça, não tenho o que dizer, apenas o que pensar.

Aperto desperto

Percevejo você,
perlustro e a percepção encanta.
Porém minha pérfida, percutida atitude
perde, perturba seu amor
por permeada vaidade.
Pereço quando vai embora...

Por isso, persisto:
Perfuma-me de você,
perfeito poeta,
pernas perto permitem mais
perícia peralta.
Perdoa tal percalço,
perene é o perfurar que em meu
peito sua falta perdura.

Perseverantes perambulemos, sem
perde-ganha amemos.
Permeie comigo nosso coração de
perspicaz amor perpétuo.
Perigoso percurso não há se
percute nosso permanente carinho.

w3 sul

Desejei que as luzes fossem acesas. Dois segundos depois, as ondas luminosas alcançaram minhas vistas. O motorista do ônibus ouviu meu pensamento. Ou o vento soprou no ouvido dele.
O cheiro era preto do descarregar dos canos, o resto da combustão. Gasolina, faísca, pistão. Os pneus deslizavam moles pelas faixas. Fortes cores ordenavam o siga ou o pare.
Tantas, tantíssimas pessoas de quatro rodas.
Todos congestionaram-se para ver o sol despedir-se deixando um rastro amarelo, enquanto o azul em espectro tomava conta do côcavo espelho terrestre.
Olhar pro céu para não olhar pro chão.
Meus pés estão nos meus olhos.

Estação

Cego o conceito.
Degluto, inalo, suo palavras.

As bolas finas de sabão
ao vento aflito,
o fino cristal
a ressonar enquanto grito.

Arrisco um petisco
e de tão livre o verso foge,
de vazio cheio o sentido.

Há liberdade maior que a de não existir?

Limiar

Poça-flores chora o ipê
rosas lágrimas apegadas
louvam no chão o outono.

Lagarta de fogo morre
as carpideiras formigas
a coroar e cuspir.

Passarinho cor de seca
pica o que nutre do chão
assutado voa pra casa.

Ferro colorido penduram-se
crianças mais perguntas
menos preocupações.

Pôr do sol não satisfaz
o coração amarrotado
dói mais que bate.

Apressada mulher sacolas
no vai e vem de quem
nunca chega.

Palha queima à puxadas
esbaforidas dos pulmões
à cabeça esfumaçada.

Quem é eu o mundo
grita no vão do céu pro chão
da ocupação ao ócio.

Arrastão

Uno imerso mundo,
dentro de si
entes.
Ilhas cabeças barulhentas,
girassóis no campo tenebroso,
vadios cães no vácuo a uivar.

Anda o dia frio
mais sombra que o bater do vento.
A noite tudo abarca,
mas toca nada.
Sem raios
sem calor morre o sol,
ferido e esparramado pela escuridão.

Vendaval arrastão.
Íntima mundo imensidão
traz com o vento o meu coração.

Vasto vazio

meu oco corpo,
moído no canto,
tentando pertencer ao chão,
penetrando a parede.
feito água umedecendo,
manchando de mim
a tinta.

Sem ninguém vê,
tal despedaço sumiu.

Ipê

Amarelos brilhos
em meio a matos e ares secos,
parecem você
destoando do resto das coisas
saltando de meus olhos
levando meu coração daqui
pra um mundo de estalactites
brilhantes amarelas em flor