A deus


Amanhece em susto sereno,
locomotravado,
contorce o corpo por dentro
a dilatarplosão abalo,
tanto sísmico o espírito.
A tórax-caixa partindo e implodindo
do imenso pequeno ao ínfimo grande,
luz que alumia pleno oco.
Sereu a palavra dura
qual pedra,
rangendo um fumacê,
aos são não ser,

excarneser.
7 vezes antes de acordar correndo caiu no sono sentindo o olho vibrar viu no espelho a veia saltada na testa água fria encanada de manhã café doce pão com mortadela trancou o cadeado seguramente balançou a canela esquerda dor velha esperando o ônibus de sorriso feito pelo tempo rugas de pensamentos positivos olhos com fendas camisa de botão azul relojão prata envelope pardo careca grisalha passou a catraca seguiu o itinerário típico sol quente leseira seca no cerrado gente sentada em pé escorada suando pensando voando desceu na parada íntima sem faixa sem atentar ao que vinha justo hoje passei ali que nunca fui nem vi, mas vi sua veia na testa veia velha de preocupação de muito tempo pensando de expressão sentida e expelida da víscera a dor da ferida meu carro pegou o corpo leve velho solitário bateu no para-brisa trincou a cabeça caiu sem jeito chamei os bombeiros e estava vivo o velho era forte estava inconsciente como eu do choque entre vidas nos encontramos no fluxo das encarnações no fluxo das embarcações de rodas ao lado do cemitério seu sono tornou-se meu e suas quedas minhas as 7.

Nuvem em pó

Vêm de tão dentro as verdades,
que quem escuta desses gritos,
do coração perde a contagem.
É desperto o sonho, a luz é bela.
As palavras são sons, encaixamento de rima.
Cantar de louvor.
Água densa, vento pesado,
chuva testando o telhado.
Passo fundo (en)lamaçal,
transporte intelectual
de feto de moça e de sonho com rio.
Ma(és)trio olhar de sangue impulsionado artístico.
A vida do jeito que se não sabe, nem pensa.
Só vive, só cresce, da mata a árvore.
O chão terreiro que voa
por luta, por dança.
Guia.
Aterro me
enterro me
planto.
           Desfolho o verão
           floreço o outono.
Sou planta contrária
que nasce comprida
e morre semente,
envelhecendo até virar criança.
            Frutifico o inverno
            seco a primavera.
O passarinho que me mora
é amanhã minha morada,
e depois é o vento que levou seu canto.
Atiro me
espalho me
semeio.