Parada
Olhava tudo como se não estivesse ali. O mundo inteiro parecia televisionado; não interagia com a programação dos fatos. Até que o ônibus freou bruscamente e levantou poeira, entupiu meu nariz. O homem desceu. Era vendedor ambulante de amendoins torradinhos e quentinhos. Parou do meu lado, nem me olhou. Como desejei aqueles amendoins. Apostava na força do pensamento, ele me daria um conezinho de papel cheio de grãos salgadinhos. Mas não me deu nada; arrumou os cones que estavam quase caindo e seguiu em frente. Parou para atravessar a rua e correu quando deu. Já do outro lado, bateu o pé direito no meio fio, tropeçou, caiu e derrubou todos os cones no chão. Sujou-se, mas não se machucou. Não me lembro de ter desejado mal algum àquele homem, mas meu olho grande em seus amendoins parece tê-lo empurrado. Assim como quem acha bem feito: "Vai!". Ele levantou-se só, sacudiu a poeira, juntou seus produtos e sumiu.
Desgarrado
Achar que todo acontecimento
carrega significado,
hoje,
me parece tarefa rotineira.
Difícil mesmo é não-pensar.
Difícil é sentir.
Difícil é ver, cheirar.
Supor, eu faço.
Viver é sentir.
Se não sinto não vivo
só penso só existo.
carrega significado,
hoje,
me parece tarefa rotineira.
Difícil mesmo é não-pensar.
Difícil é sentir.
Difícil é ver, cheirar.
Supor, eu faço.
Viver é sentir.
Se não sinto não vivo
só penso só existo.
Passa corpo
O peito aberto,
todo empatia ao mundo.
Vapor d'água
toca a todos, em tudo contém
a si o íntimo todo de coração.
Beira o abismado sem fundo poço.
Sapateia ao último respiro.
Termina a dor, perpetua o amor.
Alma expande pega fogo
intima o infinito.
Quando a vida enfim parte,
não guardar o corpo em
caixote de madeira fina
ornada em conforto.
Antes,
despir o orgânico de sintéticos,
soterrar a passividade mortal
para que encontre a atividade microviva;
devolva tudo o que supriu da terra,
ou,
faça de sangue-osso-carne pó.
A pessoa cosmos
poeira na frequência
onisciente universo.
todo empatia ao mundo.
Vapor d'água
toca a todos, em tudo contém
a si o íntimo todo de coração.
Beira o abismado sem fundo poço.
Sapateia ao último respiro.
Termina a dor, perpetua o amor.
Alma expande pega fogo
intima o infinito.
Quando a vida enfim parte,
não guardar o corpo em
caixote de madeira fina
ornada em conforto.
Antes,
despir o orgânico de sintéticos,
soterrar a passividade mortal
para que encontre a atividade microviva;
devolva tudo o que supriu da terra,
ou,
faça de sangue-osso-carne pó.
A pessoa cosmos
poeira na frequência
onisciente universo.
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